domingo, 16 de abril de 2017

Leituras - As mães da Síria

A linguagem foi uma criação de uma civilização, de um homem, de uma forma de dar nomes às coisas. Os nomes das coisas eram a forma de compreender algo, era o reconhecimento das coisas, o sentido estético de uma forma que era igualmente uma experiência. O desastre humanitário na Síria, o modo como se aproveita a vida humana para os mais funestos objectivos faz-nos recordar que a linguagem já não é capaz de nomear o maior desastre contra a vida humana. Alepo é a morte da lingugam, pois não há formas de reconhecer a vida. Isabel Aguiar, de um modo alegórico disse-o, com a melhor forma possível. A ABC News, empresa de media dos Estados Unidos patrocina uma banda desenhada sobre esse desastre. É uma outra forma de fazer compreender o incompreensível.

"Talvez um vento áspero vindo do deserto
Transporte o meu coração para um mais além
Onde jejuarei para sempre
...
Cidade do mundo a mais antiga
Neste princípio escaldante de Julho
Morrerei numa pérpetua aliança
Aos astros e aos planetas
...
Quero ser uma árvore queimada nesta tempestade
Que a todos mata
Desde as formigas aos confins do género humano
Tudo é alquimia de sofrimento
...
Pão do sangue do cordeiro
Amassado com sal insano
...
Tudo é chama infernal que não saberei quando cessa".

Isabel Aguiar. (2016). "VI", in As mães da Síria. Lisboa: Licorne. 

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