terça-feira, 11 de abril de 2017

Leituras - Kyoto

"Não se estava na estação das azáleas, mas o verde das suas folhas fazia ressaltar as túlipas."

Kyoto é um livro escrtito em 1962 por Yasunari Kawabata, e que se tornou numa das suas mais importantes obras, ele que é uma referência das letras japonesas. O livro conta-nos a história de Chieko, uma jovem de vinte anos rodeada por sinais evidentes de solidão que vive a sua vida num ambiente familiar cuidado, envolvente, mas que não lhe dá a identificação que ela precisa. Os pais têm um atelier de kimonos e obis. O desenho de kimonos apresenta-se como um elemento narrativo, por onde as qualidades das personagens se revelam, a sua função no corpo social.

O livro não tem grandes enredos narrativos, nem suspenses de acção. Aquilo que nos conduz é a procura de Chieko por um elemento que ela julga existir a sua irmã gémea, de que teria sido afastada logo após o nascimento. A narrativa evolui para essa procura com Naeko que se consfirma no fim do livro. O seu reencontro e a sua vida comum é vivido dentro da identidade de cada uma delas e não, como limitações sociais de uma estrutura familiar mais rígida, o que nos dá um valor de significado sobre o papel dos indivíduos no Japão dos anos cinquenta.

Kyoto é um imenso livro porque conta-nos uma história simples cheia de referências às tradições de Kyoto, aos seus símbolos de espitirualidade e nos faz acompanhar por um desenho das paisagens de uma forma perfeita e intensa. Yasunari Kawabata era considerado como escritor, um desenhador de palavras, no sentido de criar imagens visuais, o que aqui aparece de forma muito conseguida e muito bela.

Ao ler o livro somos convidados a fazer uma viagem de delicadeza, de tomar contacto com árevores, flores, cores, imagens da Natureza, como se a sua absorção pelo próprio indivíduo conduzisse auma felicidade, que cada um na relação com os outros devesse igualmente partilhar. Kyoto é uma viagem a uma cidade e a um tempo, onde se anunciam novas regras económicas e a queda de modos de vida ancestrais parecem perigar. 

Kyoto apresenta-nos ainda uma denúncia, feita de modo poética, um geografia a revelar o que se pode perder, não chega a ser um panfleto e nesse sentido é uma revelação de um mundo. De algum modo as diferentes características das duas irmãs assinalam as diferenças que o Japão estava a viver.  O armazém de Takichiro que resistiu aos traços e elementos de modernidade é a voz de Kawabata a dar-nos o que de ancestral e de tradicional a vida se compunha, onde a vida simplese  a contemplação da natureza eram elementos essenciais.

Yasunari Kawabata. (2012). Kyoto. Lisboa: D. Quixote.
Imagem - capa da edição em França

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