domingo, 16 de agosto de 2015

A democracia de gabinete

O século XX em Portugal não tem outra figura à altura do que foi o essencial do século, a luta contra a doença do espírito mais profunda, o Nazismo. O "herói" de Bordéus explicou a quem o souber perceber que em determinadas horas, apenas a consciência nos serve de utensílio. O exercício do bem ou a crença que as acções se moldam pelo valor do espírito devolve-nos o valor ético da liberdade de participação. Um homem que compreendeu que é o valor universal de humanidade que nos deve guiar. A quantos podemos reclamar esta consciência da Humanidade? Poucos. Muito poucos.

Como País sepultado no passado, como um conto de fadas para alimentar a inconsciência, não damos valor aos exemplos de cidadania corajosa. Não praticamos pois, os bons exemplos, dos que foram melhores e criativos. Não sabemos aproveitar a sua memória como inspiração, a sua coragem como força de acção. Nem mesmo quando falamos de quem arriscou tudo pela sua sobrevivência, continuando sempre, numa perseguição pelo sonho maior de salvar vidas, acima de qualquer decreto, de qualquer visão totalitária do ser humano.

Gostamos de exaltar os pequenos feitos da aventura momentânea em discursos de circunstância, onde tantos passeiam a sua ignorância, o real feito de vaidades e de chico-espertismo. O Estado ocupado por classes políticas esclarecidas não reclama este património de coragem dos que souberam caminhar com graça e sabedoria. Preferimos os gastos desnecessários, atitudes culturais de gosto duvidoso em gestos de povo predestinado e aqui temos um exemplo inspirador a que não se liga. Um homem que soube combinar solidariedade cristã com humanismo, na amizade aos mais carenciados, aos que nada tinham revelando os quadros mentais do País de Salazar é dispensado.

Não é assim de admirar que um embaixador, o da Argentina, um ser de nome Henrique Silveira Borges decidiu que não podia aprovar o que não conhecia, uma cerimónia de reconhecimento público pelo esforço humanitário de Aristides de Sousa Mendes. Correndo entre desculpas e silêncios o senhor embaixador não se podia dar ao trabalho de conhecer o trabalho e empenho de outros, como a Fundação Sousa Mendes na Argentina, O Centro Comunitário Sergio Karakachoff, O Observatório Internacional dos Dirteitos Humanos entre outros. Um ser superior está centrado em si, não nos outros. O seu exemplo está à altura do País, da sua falta de memória. O País que mais devia enaltecer uma memória foi o que mais fez para a sua não realização. Mas nada de mais. Um democrata sem dúvida ao nível do governo que representa.

Sem comentários:

Enviar um comentário