sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Agostinho da Silva - o exercício da simplicidade

É para todos os dias que precisas de educar e afinar a alma; é para te sentires o mesmo em todos os minutos que deves dominar os impulsos e ser obstinadamente calmo ante as dificuldades e os perigos, as alegrias e os triunfos (...) 

O que a vida apresenta de pior não é a violenta catástrofe, mas a monotonia dos momentos semelhantes; numa ou se morre ou se vence, na outra verás que maior número nem venceu nem morreu: flutua sem morte nem esperança. 

Não te deixes derrubar pela insignificância dos pequenos movimentos e serás homem para os grandes, se jamais te faltar coragem para afrontar os dias em que nada se passa, poderás sem receio esperar os tempos em que o mundo se vira. (1)

Os dias são um equívoco de liberdade e decência. O país é essa metáfora de que Eça falava como uma alegoria do nada e as instituições são essa mendicidade do espírito. Ele foi maior que este território, de uma universalidade contagiante de luz e sabedoria e onde as ideias e o conhecimento poucas vezes foi tão veemente no seu brilho.

Chama-se Agostinho da Silva, nasceu no Porto, espalhou a luz fundadora das ideias em vastos continentes e foi uma das mais importantes figuras do século XX. Percebeu o mundo que emergiu das crises sociais e políticas e deu-nos o valor da coragem e do exercício da liberdade.

Como Sá de Miranda ou Torga, entre outros, esteve impedido de dar o seu contributo no desenvolvimento do País e esteve ausente da germinação de uma ideia cultural que o fizesse transformar num espaço de desenvolvimento humano, de que permanece afastado por longas décadas. 

Com Agostinho da Silva compreendemos como sem ideias não existem possíveis e que a generosidade do saber, a sua curiosidade é o que nos levanta das manhãs incertas. Nas aparências de liberdade que alguns cozinham em palácios de papel, jamais se descobrirá o valor da ideia, como motor do desenvolvimento humano. Relê-lo é destruir as teias de aranha do círculo do poder, alimentado em rituais de irrevogabilidade de circunstância. 

(1) Agostinho da SilvaIr à Índia sem abandonar Portugal e outros textos
                 

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