sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Recortes (1)


 «É tempo de serem desmistificadas algumas mentiras descardas que a comunicação social tem divulgado acerca do antigo presidente do BES. Por exemplo. tem sido dito que Salgado recebeu uma prenda de 14 milhões de euros. Não é preciso investigar muito para saber que é falso. De uma vez por todas, as pessoas da classe social a que Ricardo Salgado pertence não recebem prendas, recebem presentes. Também não é verdade que a credibilidade do BES tenha ido pela sanita abaixo. Foi pela retrete. Sejam rigorosos.»

 Ricardo Araújo Pereira, Santos Alves dos Reis

 «A falência do Grupo Espírito Santo, cujos interesses se espalham por múltiplos sectores de actividade económica e financeira, desde a saúde ao turismo, do imobiliário aos diamantes, da construção civil às obras públicas, levanta a dúvida sobre a sacrossanta tese neoliberal, segundo a qual "os privados estão mais vocacionados e são mais competentes para gerir as empresas do que o Estado". Esta tese, que parece ter pés de barro, tem levado à última sanha de privatizações, muitas vezes de empresas do Estado que apresentavam lucros, como os CTT ou a ANA. Até a Caixa Geral de Depósitos esteve nesta lista de património público a passar para as mãos da "iniciativa privada". (...) Responderão os aficionados neoliberais: as decisões das empresas privadas não prejudicam o Estado, nem os contribuintes, mas apenas os accionistas. Este argumento é, pelos vistos, falacioso, sobretudo depois das consequências da presente crise europeia.»

Tomás Vasques, O mito da gestão privada

«O BES foi seguramente, nos últimos dez anos, o banco que mais investiu em publicidade na comunicação social. Essa estratégia nunca foi inocente. Na sua mão tinha sempre a espada de Dâmocles que levava o director de qualquer rádio, jornal ou televisão a pensar duas vezes antes de publicar algo desagradável para o banco verde. A esta actuação aliava uma outra: o convite a jornalistas para irem a conferências de uma semana em estâncias de neve na Suiça ou em França, onde de manhã se ministravam cursos de esqui na neve e à tarde se ouviam especialistas na área económica e financeira. E no Verão repetia-se a dose: uma semana num barco algures no Mediterrâneo, acompanhando a Regata do Rei, até que num dos dias se subia a bordo do veleiro (ou será iate?) onde estava Ricardo Salgado para uma conversa descontraída sobre o banco.»  

  Nicolau Santos, Duas ou três coisas ...

«Como bem refere o Professor Pedro Lains não faltam por aí fascinados da finança e apologistas da propaganda. E como andam eles a lidar com o caso? Resposta: a inverter as setas causais e a tapar o elefante com lenços de assoar! Veja-se o caso do investigador e colunista Rui Ramos. Diz que o BES tem sido "um dos principais braços financeiros do poder político democrático, um dos meios através dos quais os governos controlaram a economia". Bom: é precisamente o contrário. Vá... é pelo menos muito mais plausível argumentar que tem sido o poder oligárquico que tem instrumentalizado o poder democrático! Certo?! E veja-se o caso do colunista João Pereira Coutinho. Como se poder dizer taxativamente que " Quem confunde BES com o BPN deve fazer exames à cabeça"?! E será que quando é um privadoa entrar em incumprimento está tudo bem mas quando é o público a reestruturar a dívida está tudo mal?! .... Isto é, e em suma: os media são "comunicação social" ou "comunicação anti-social"?! Será tudo apenas má informação ou, afinal, contra-informação?"

Sandro Mendonça, DesBESificar o País

«É por isto tudo que não aceito a culpabilização sistemática dos mais pobres e mais fracos e da classe média, por terem vivido “acima das suas posses”, mesmo quando não o fizeram. E mesmo quando havia uma casa a mais, um carro a mais, um ecrã plano a mais, um sofá a mais, um vestido ou um fato a mais, umas férias a mais, uma viagem a mais, recuso-me a colocar estes “excessos” no mesmo plano moral dos “outros”. Algum moralismo salomónico, que coloca no mesmo plano a corrupção dos poderosos e dos de cima com os pequenos vícios dos de baixo e do meio, tem como objectivo legitimar sempre a penalização punitiva de milhões para desculpar as dezenas. É por isto que esta crise corrompe a sociedade e vai deixar muitas marcas..."

(Imagem - Copyright: www.bigstock.com)

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