quarta-feira, 6 de agosto de 2014

O novo velho comissário

O mundo em que nascemos e crescemos está a terminar, no pior sentido, naquele em que não se realiza uma transformação sustentável de uma sociedade, onde os valores humanos tenham significado, mas de uma ruptura com os princípios da dignidade e da ética social. Até há duas gerações pensar a realidade vivida, ler o património cultural e geracional da humanidade, participar na construção do mundo era um desejo, uma missão de significado na  vida das pessoas, no seu desejo de participação, de ligação a uma comunidade.

A luta por ideais de valorização pessoal, de crescimento social e valorização cultural, de contribuir para a definição de opções de vida era uma dignificação espititual das pessoas e um enobrecimento funcional da sociedade. A vida intelectual, a política, a criação artística servia o propósito de valorização de uma comunidade. Cada um podia ser um elemento de uma construção comunitária como pertença a um património de identidade. Este mundo está a desaparecer e com ele a decência do valor humano na gestão dos bens públicos, pois os novos imperadores desconhecem que uma sociedade mais não é que um conjunto humanizado de bens públicos.

O desprezo pelos estudos clássicos, a ausência real do conhecimento e utilização competente da língua, na desvalorização da memória, da marginalização da arte, na destruição do pensamento científico como forma crítica do real fez nascer em universidades assépticas, uma nova casta de imperadores. Os media estão cheios deles, tal como a política. O srº Moedas, recente comissário é um dos mais ilustres desta formatação acima do valor real do conhecimento e da cidadania.

A Gestão, irrelevante como escolha há trinta anos é hoje um dos cursos de eleição e vemos nele e em formações afins uma formatação por um mundo feito de abstrações, onde cada indivíduo não tem significado. A Economia, definida como ciência da aproximação, onde as previsões são defendidas como unidades coerentes com a plasticidade que o real se assume na física quântica, tece uma rede de ligações ao mercado financeiro, predominantemente especulativo e apoiado numa classe política sem responsabilidade cívica.

A política e a economia servem-se mutuamente no dálogo brilhante de garantir todas as operações possíveis àquela e de a financiar do modo que mantenha os privilégios de uma minoria. Os novos sábios existem apenas para justificar a plenitude do novo império. Entre política e economia tudo ém justificável em nome da pura gestão material. Não limites há imaginação. Dominando as instituições de soberania nacional, por castings alimentados nos media e na recrutação partidária, o ideal de transformação social morreu nos caminhos de uma dominação da maioria pelos interesses estratégicos dos mais poderosos.

É neste mundo novo, admirável mundo que concilia uma nova casta de imperadores do material, onde cada palavra é insignificante. O comissário distinto agora nomeado numa instituição que vive para si como uma grandeza histórica e de nulidade civilizacional responde ao domínio dos financeiros. É essa a grande função comissário Moedas. Aplicar as regras que a casta de financeiros que dominam a União mais lhe convém. Neste novo mundo, de regressão civilizacional, são estes os esteios dum mundo representado por pessoas sem nenhuma ligação a um território, a uma cultura, a uma língua.

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