quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Goethe

."..quando vejo que toda a actividade se esgota na satisfação de necessidades, cujo único propósito é prolongar a nossa pobre existência e, ainda, que toda a tranquilidade em relação a certas questões não passa de uma resignação sonhadora, pois as paredes que nos aprisionam estão cobertas de formas coloridas e perspectivas luminosas… isso tudo, (…), me deixa mudo. Volto-me para dentro de mim mesmo e encontro um mundo! Mais pressentimentos e desejos do que de raciocínios e forças vitais. E, então, tudo flutua ante meus olhos, sorrio e, sonhando, penetro ainda mais neste mundo…" (1)

Johann Wolfgang von Goethe é um dos marcos fundamentais da literatura contemporânea que atravessa a passagem do século XVIII e XIX. Goethe desenvolveu uma obra de grande valor cultural, tendo feito uma síntese feliz e essencial entre o iluminismo e o romantismo. 

Nasceu a vinte e oito de Agosto em Frankfurt, tendo desenvolvido uma obra de escrita e de pensamento, tendo produzido, romances, peças de teatro, poemas, escritas autobiográficas e reflexões diversas sobre a arte, a literatura e as ciências. Goethe é com Schiller um dos grandes representantes do classicismo como movimento cultural, mas também como princípio gerador de possibilidades de vida. 

Nascido numa família abastada, estudou em Leipzig Direito, tendo optado por se dedicar ao desenho e à gravura. No regresso a Frankfurt volta ao estudo de Direito, onde recebe influências diversas, com destaque para Johann Gottfried Herder que o introduz em autores diversos e no estudo da literatura.  Em 1771 focaliza-se na poesia e em 1774 publica Werther, que é um sucesso em toda a Europa e que reflecte episódios pessoais. Publica Os anos de aprendizagem de Wihlem Meister. A partir de 1786 viaja pela Itália e os valores do classicismo e da antiguidade irão influenciar a sua obra. Já no século XIX publica As afinidades Electivas, Fausto e a Teoria das cores.

Em Goethe assiste-se ao desenvolvimento de um conceito essencial da cultura alemã que se perderia na euforia de medo do século XX - "O bildung". Conceito que explora a ideia de "auto-formação", no sentido de que cada um deve aperfeiçoar a sua personalidade, não apenas num conceito enciclopédico, como o pensavam os iluministas, mas procurando uma elevação espiritual, fazendo aperfeiçoar as nossas emoções contribuindo para um indivíduo mais consistente do ponto de vista moral. 

A formação consistente do ser humano, no sentido que o que nos tornamos individualmente contribui para uma responsabilidade social. Visa-se a procura de uma pureza em clara oposição ao puro utilitarismo do quotidiano. As ideias de Gothe que Thomas Mann desenvolveu em A montanha Mágica e que deu continuidade na ideia de nobreza de espírito é um dos fundamentos de uma sociedade civilizada que o século XX ignorou e que presentemente assistimos a formas pavorosas de continuidade, sem qualquer brilho de dignidade humanas.
(1) Gothe, Werther, Guimarãe Editores.
Imagem (Jardim em Viena - via Goethe - Institut)

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