quarta-feira, 23 de julho de 2014

Leituras - Eduardo Lourenço: A História é a suprema ficção

"Os paradigmas da vida política não podem ser mais estes. Desapareceu não só a democracia ideal de uns pequenos eleitores, de uma pequena cidade chamada Atenas, que se vêem todos uns aos outros quando vão votar. Portanto, democracia directa não, nunca existitu, nem esta democracia de segundo grau, representativa, etc. Tudo isso vai ter de mudar, não pode ser vivido da mesma maneira. Portanto é uma outra História que começa.  (...)

A História está sempre a acabar, porque ela não existe realmente como essa entidade chamada História. Ela é a teia que se faz e desfaz continuamente e acabará por ser realmente uma outra coisa. (...) Sei que entrámos em qualquer coisa que até hoje era inédita e desconhecida. Vamos ver quais serão os seus efeitos. Sempre as coisas que os homens inventaram tiveram duas leituras, uma boa e outra má, que são extraordinárias. Este nosso génio do mal, ou o que se queira chamar, também tem a sua palavra. A palavra que diz "não".

Eu tenho também um pouco essa sensibilidade e é por isso, relamente, que aquilo que nós chamamos História também é uma ficção. Tudo isso é um pouco a história das metamorfoses, da nossa capacidade maléfica, e também a capacidade de recuperarmos esse mal, e esse mal é recuperado pela criação, pela poesia, pela música, pela habilidade que nós temos para nos servirmos das coisas espantosas, inumanas. Essa habilidade é escusado de ser demonstrada, porque a História humana não é outra coisa senão isso" 

(Um livro para descobrir acima das palavras definidas com "a precisão de um ponteiro" (Sophia), o encanto de uma personalidade que descobriu no granito, o sabor da terra, o valor de tecer luz capaz de voar sob todas as ortodoxias. Um pequeno livro para descobrir Eduarso Lourenço, em temas diversos, a vida, a história, o mundo, a poesia e os poetas).

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