quinta-feira, 29 de maio de 2014

A sagração da primavera

"Um dia quando eu terminava o pássaro de fogo em São Petesburgo, tive uma visão fugidia num momento em que minha mente, surpreendentemente estava ocupada, com várias outras coisas. Imaginei um solene rito pagão: sábios anciãos, sentados em círculo, assistindo a uma garota que dança até morrer. Eles a estão sacrificando para apaziguar o deus da Primavera. É este o tema de A Sagração da Primavera".  Igor Stranvisky

Em 1913, por este dia estreava, há pouco mais de cem anos, uma obra que vai muito para além de uma obra sinfónica ou de uma representação cénica, pois ela incorpora os valores da arte contemporânea. A Sagração da Primavera foi uma revolução naquilo que eram as convenções musicais, ou os padrões do ballet clássico. Muito mal aceite em Paris, do início do século veio a dar substância a um século de contrastes e de quebras do espírito humano. 

Encenada na sua primeira versão por Vaslav Nijinsky e construída musicalmente por Stravisnky, A Sagração da Primavera foi simbólica no momento em que surgiu, justamente nas vésperas de uma Europa que se consumiria em guerras inimagináveis e fundou uma dança que transformaria os conceitos desta arte no século XX. ina Baush, também fez uma coreografia sobre esta obra. Na coreografia de Pina Baush, onde os bailarinos do Tantztheater Wuppertal deram uma cor onde predominava algum primitivismo e selvajaria, deu-nos o que poderia ser o horror do coletivo, metáfora de uma sociedade primitiva.

O vestido vermelho que representa a escolha da vítima é um combate contra os Homens, contra a dignidade, por uma sociedade primitiva nos seus conceitos mais básicos. O sacrifício individual em nome de uma coletivo é uma metáfora que A Sagração da Primavera deixa e que importa refletir.E a recordação da Sagração da Primavera nos seus cem anos, também é uma forma de recordar a grande artista alemã que nos deu uma linguagem visual e emocional de grande significado. Trouxe-nos a nossa própria dimensão de frente para os olhos, onde nos admirámos do que sabemos ser possível construir e do que inevitavelmente perderemos.

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