quarta-feira, 19 de março de 2014

Pensar as ideias... José Medeiros Ferreira

"(...) estou sempre a reflectir, a ponderar, a tentar ver para lá das aparências. Não me deixo levar por epifenómenos". (entrevista a Aabela Mota Ribeiro)

Alguém esreveu que a vida que vivemos é feita de muitas outras, das que passam por nós e nos redimensionam o que amamos, fazemos ou conhecemos. Das que se formaram no sorriso aberto, nas ideias claras, na sabedoria tão essencial do que significa pensar por si.

Dele retenho um olhar diferente, fisicamente mas sobretudo a capacidade de reflectir, de fazer do estudo da História Contemporânea, uma forma de criar utensílios, ferramentas para um pensamento que compreenda o real. O sorriso e o abraço como forma inteligente e sedutora de acompanhar a palavra. E a ideia que o tempo formaliza as nossas possibilidades, é no seu momento a nossa forma de o amar no possível cintilante das formas que soubermos ousar.

Lembro-o de muitos sítios, mas tal como outros será da Universidade que a sua influência foi maior, pois ele é do tempo em que aquela funcionava como um templo do conhecimento, uma iniciação para transformar o mundo. Deixou nos media e nos livros muito da sua sabedoria, do seu encanto, do seu pensamento feito de palavras e interrogações sobre o real. Marcou em diferentes momentos a vida política, transmitiu os seus valores de social-democracia num óasis político feito de funcionários ideológicos e por isso muitas vezes foi ultrapassado pelas lesmas de serviço.

Enganou-se algumas vezes, mas quase sempre por solidariedade, por uma amizade feita de cumplicidades de sonhos. Era um dos poucos que valia a pena ouvir a comentar a actualidade, pois a sua bússola não era a do funcionalismo político, mas o de pensar, com o sorriso aberto do Atlântico, das vagas que reclamam e dão consistência a um pensamento original e criativo. Havia nele, na sua resiração algo de nórdico, algo pela construção do essencial, do indivíduo no seu papel para o bem comum. Foi um exemplo na sua vida e deixou-nos o maior, o da cidadania.

Chamou-se José Medeiros Ferreira e veio das ilhas frias para revelar "nas praias tristes" a nossa incapacidade de ser e de transformar, mas sempre a acreditar na possibilidade, sempre buscando o caminho mais original, mais certo do brilho da vida. Um abraço professor. Sentiremos a sua falta, da sua palavra e do seu espírito num País dominado por génios a banalidade.

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